Luis Miguel de Matos apneia do plastico (5)
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Luis Miguel de Matos apneia do plastico (1)

Com ondas de calor e chuvas de trovoada o verão acabara por chegar. Arrastava-se coxo forçando os lacobrigenses a tirar e por o guarda-chuva da arrecadação.
A caminho da praia o Dário trazia o chapéu de sol na bagageira as toalhas a secar nas costas do banco as cadeiras espreguiçadeira embrenhadas na areia do ano passado no chão a lancheira refrigerada com maçãs, água e sandes de chouriço em guardanapos e alumínio no lugar do passageiro.

Se há alguns anos para cá carregava o carro com este arsenal. De hoje em diante a bola de praia ficaria na arrecadação sempre que chovia recordá-lo-ia de outro tempo. Tempo que mostrava o sol e em minutos passava por casa punha a toalha ao ombro agarrava a água da despensa e descia à praia para uns mergulhos. Encontrava outros amigos um de pele clara trazia protetor solar mas quase sempre acabava a torrar nas horas de maior calor.
Entre cigarros e mergulhos ia enchendo o peito evitando expirar à frente das meninas.
Hoje valente conseguiu em meia hora preparar a merenda antes de sair teve a confirmar a tampa da máquina de lavar, o fogão, as janelas, os trincos.
Quando estava para entrar no carro voltou atrás quis ir tranquilo na certeza que a porta estava fechada à chave.
As mãos suavam ao volante quando abriu a janela não via carros na estrada desceu a avenida não havia pessoas nos passeios olhou em redor não viu gente nos jardins.
Travou o carro parou.
A cidade era um deserto.
O vento hoje trouxe mais que calor.

A janela aberta só piorou não entrava brisa as mãos escorregavam no volante o cheiro de borracha queimada tornou-se incómodo.

Fora do carro a cidade cheirava diferente como o mar de perto.
O sol encadeia-o o olhar à procura de movimento na distância estava tudo parado a funcionar estático paralisado com ninguém.
A ventoinha do motor deu contagem decrescente para silêncio vermelho um semáforo a maresia encheu-lhe pulmões o sal secou-lhe a pele o cheiro do peixe deixado na lota e no mercado enferrujou-lhe o paladar.

A ponte estava levantada mas nenhum barco por passar o telemóvel vibrou cortou o arrepio
A mensagem dizia:
“Tsunami! ONDA GIGANTE! Estamos todos em Monchique, da Fóia consigo ver-te ai parado à porta
do carro. Vem rápido amor.”